quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Um dia de Greve

Hoje o país acordou para a Greve Geral. Escolas fechadas, serviços públicos encerrados e com transportes a meio-gás é o retrato  de um Portugal envolto em séria crise, tanto económica como de valores. Cada vez mais, sinto que nós, os cristãos, temos de ter a coragem de nos impormos, de ajudar-mos de fazer caridade. 


Publico aqui uma analise de Carvalho da Silva à actual situação social, apresenta motivos para a greve geral e fala do contributo da Igreja. 



O secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), Carvalho da Silva, considera fundamental trazer “a sociedade à participação, quer do ponto de vista individual quer do ponto de vista colectivo dos cidadãos”.
Depois de anunciado um novo conjunto de medidas de austeridade, os líderes da CGTP e da UGT marcaram uma greve geral, que decorre hoje, 24 de Novembro.
“Existem diversas rupturas de coesão na sociedade”, alerta Carvalho da Silva, o qual destaca o papel e a atenção que deve ser dada às novas gerações. “A presença destas na sociedade tem de ser mais forte”.
Ao fazer uma radiografia à sociedade que “nos cria a ilusão de que temos a informação toda e que já dominamos tudo” o sindicalista Carvalho da Silva considera que é necessário “intervir em todos os sectores da sociedade” porque “os bloqueios são amplos”.
Nascido a 2 de Novembro de 1948, em Viatodos (Braga), Manuel Carvalho da Silva  critica “uma sociedade em que toda a ocupação que temos nos aparece contabilizada em cifrões”.
A mudança é urgente até porque desde a II Guerra Mundial que “não tivemos uma situação idêntica à de hoje: Tentar convencer as gerações mais jovens que o seu futuro pode ser pior do que o dos seus pais”. Um sinal “perigoso e de ruptura”, afirma, de forma peremptória.
Apesar de reconhecer que “sempre existiram pessoas” que defendem que não é com greves que recuperamos o país, Carvalho da Silva afirma que quem “está no poder acha sempre que as dinâmicas de remar contra a maré e as dinâmicas de contestação e a afirmação de projectos novos são contrários aos seus interesses”.
O processo laborioso até à convocação de uma greve geral “é muito difícil”. “É preciso observar-se um conjunto de factores de grande preocupação e de grande exigência de sacrifícios para se dizer: vamos fazer uma greve geral”, confidenciou.
Com “práticas patronais e práticas de governação profundamente injustas”, o secretário-geral da CGTP-IN pede às pessoas “para não baixarem os braços”.
Numa sociedade democrática, um dos “factores mais negativos” é “a existência da desmotivação”. E avança: “Esta greve geral é uma afirmação de futuro”.
Reconhece que as “grandes mudanças não se fazem de um dia para o outro”. Estas exigem persistência e paciência, todavia apela “à esperança e confiança no futuro”. E completa: “o que produz a mudança, em regra, não é a posição dominante”.
A diminuição da retribuição do trabalho é um dos factores apontado pelo sindicalista para a crise. “Agrava as desigualdades e limita imenso as possibilidades de resposta do ponto de vista de desenvolvimento económico, em particular os países mais pobres”.
A precarização crescente do trabalho é também uma causa da crise actual e do seu prolongamento. “A perda de decência no emprego”.
Em Portugal, entre “contratos de trabalho a termo e o diverso tipo de vínculos precários, temos cerca de 30% do global dos trabalhadores”. E garante: “isto é demolidor”.
Surgida no contexto do processo da industrialização e no desenvolvimento da chamada sociedade moderna, a Doutrina Social da Igreja (DSI) tem dado “um contributo extraordinário” para que a igualdade e a solidariedade entre as pessoas seja uma realidade. Com formação católica, Carvalho da Silva continua a reler “bastante” os textos da DSI.
Ao fazer referência à última encíclica de Bento XVI - «Caritas in Veritate» -, o secretário-geral da  realça que “encontra lá fundamentos importantes que se cruzam com outros”. Apesar de confessar que o documento papal devia “ir mais longe” nalguns aspectos. A Igreja “não pode distanciar-se” das respostas técnicas porque “estamos numa sociedade concreta”.
A CGTP-IN está a completar 40 anos e os “movimentos ligados à Igreja Católica deram um extraordinário contributo para a criação da Inter-Sindical, no decorrer dos anos 60 e princípios dos anos 70”, conclui Carvalho da Silva.


Luís Filipe Santos
In Agencia Ecclesia

Sem comentários:

Enviar um comentário